Tivemos em nosso curso um grande debate, e creio que as confusões se deram por falta de delimitar sobre o que discutíamos, além de minha inabilidade em expressar-me.
Retomo aqui o tema, pois acredito que o assunto toca em algo muito importante: a forma como cada um se coloca no mundo.
Foi-nos sugerida a seguinte pergunta:
O que eu faço bem?
Entendo que se classificamos algo como fazer bem ou não fazer bem, existe aí um julgamento. Se não existisse, seria um simples fazer (e isso vem com a pergunta, não é que eu acredite que tudo deva receber um julgamento de valor).
Se existe um julgamento, alguém tem que fazê-lo. Esse alguém posso ser eu ou um(s) terceiro(s).
A dúvida ficou sobre autorizar-se a dizer que "faço algo bem" sem considerar o julgamento do outro.
Bom, se faço algo, posso fazê-lo e acreditar que fiz aquilo bem.
Mas acreditar não significa que faço. Posso estar vivendo um delírio.
Aonde posso confirmar essa minha verdade que não seja no outro, no mundo?
Numa primeira situação, vamos considerar que as pessoas me elogiam por aquilo que fiz. A chance de eu estar fazendo aquilo realmente bem é muito maior, pois houve um claro reconhecimento. Quanto mais pessoas reconhecerem, maior a chance de ser verdade. E a questão aqui não é o que eu faço ou não com esse reconhecimento, este é um outro problema, para outro momento.
A questão são estes sinais que o meio me dá para confirmação de minhas crenças.
Num segundo caso, ninguém julga o que fiz como bem feito, por ninguém notar o que fiz ou por ser algo privado. O único julgamento cabe a mim mesmo. Por que acreditaria que aquilo foi realmente bem feito? Provavelmente baseando-me e comparando com feitos de outras pessoas ou de minhas experiências pessoais. Mas aí pergunto com que propriedade posso afirmar que faço aquilo realmente bem? E se isso for um simples delírio, meu próprio delírio). Pode ser simples prepotência ou uma grande falha de discernimento de minha parte. Para tirar esta dúvida, acho imprescindível obter pistas do meio que me cerca.
É claro que posso gostar daquilo que fiz e ter prazer no que faço independente do outro ou daquilo estar bem feito ou não. Mas, mais uma vez, a questão não foi essa.
Numa terceira e mais triste suposição, aquilo que acredito fazer bem é julgado como imperfeito e só recebo críticas. O que faço?
Devo ignorar a opinião alheia? Devo acreditar que atingi a perfeição, mas que existe um delírio coletivo que não enxerga meu valor?
Lembrei-me do programa Ídolos, onde várias pessoas apresentam-se cantando. A grande maioria realmente acredita que canta bem e muitos, péssimos cantores, surpreendem-se e até revoltam-se com a reação do júri ou as risadas da platéia: "Mas eu canto bem, como assim?".
Acredito que aqui a melhor saída é uma reavaliação de meus conceitos e parâmetros. Isso me faz evoluir, melhorar, me conduz a fazer aquele algo ainda melhor e de fato bem feito. Sair do meu delírio.
Não quero dizer com isso que devo me deixar afetar ou abater pela primeira opinião que apareça, sem considerar o porquê daquela pessoa julgar-me daquela forma, quais seriam seus verdadeiros motivos e intenções, ou até mesmo se entende bulhufas sobre o assunto.
Mas buscar nos outros indícios que confirmem e me autorizem faz parte do social, é saudável e até preserva sua vida.
Na própria psicanálise, para exercer a análise, diz-se que o psicanalista deve se autorizar a analisar, mas essa autorização deve vir acompanhada da autorização por seus pares. Há toda uma ética envolvida.
Acredito que existe muito a ser trabalhado se eu, como sujeito, ignoro em absoluto a opinião do outro quando ela não me agrada.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
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