domingo, 23 de agosto de 2009

Para Refletir....

Não dá um jeitinho?

Mais do que irritado por pessoas entrarem na minha frente na fila do Restaurante Universitário (RU) da Universidade Federal de Santa Catarina, eu fiquei frustrado com a minha passividade e dos outros alunos perante esse ato de desrespeito, além de intrigado pelo motivo dessa questão não ser discutida em nenhum momento pelos universitários. Eu presenciei manifestações para a melhoria do atendimento do RU com a abertura de novas alas e desenhos de mortos no chão devido à espera na fila, as quais são justas e fundadas. Não vamos diminuir importância e a força de nossas ações políticas. Porém nunca observei nenhuma crítica ao diário e constante desrespeito à Fila que já foi institucionalizado pelos Universitários.

O comportamento de uma boa parte dos alunos ao dirigirem-se ao RU é de primeiro procurar algum conhecido na fila e apenas depois, em caso de insucesso, amargarem o fim dela. Já identifiquei colegas que se tornaram profissionais nesse quesito. Acho que fazem amizades apenas para furar fila.

É claro que é mais fácil e divertido brigar com a reitoria, crucificar nossos políticos e antepassados do que colocar o dedo na cara do colega que entra na minha frente ou olhar no espelho e assumir que eu também furo a fila. Mesmo porque se eu reclamo hoje, não posso furar amanhã. Além disso, frear essa falta de respeito depende só de nós, e sendo assim, depende de muita maturidade, responsabilidade e boa vontade.

Desculpas para esse abuso não faltam: eu trabalho, estou atrasado, tenho uma aula tal hora, meus filhos, vou confraternizar com meus amigos, etc.

E os outros que já estavam na fila? Esses decerto não têm nada para fazer. Com certeza podem esperar mais um pouco enquanto você agiliza sua refeição para resolver os problemas do mundo!

Aproveite a fila para confraternizar com alguém diferente, faça novas amizades, apresente-se a quem vem antes ou depois de você. Fazemos parte da mesma comunidade, assuntos não faltam. Agora, se o amor ao seu conhecido for tão grande, puxe-o para o fim da fila.

Será que a solução seria criar algum sistema de cotas ou de preferência para os casos especiais? Quem fará parte dessa comissão? Não sei, mas provavelmente seus membros não terão mais que pegar a fila do RU.

No livro “A Cabeça do Brasileiro”, Alberto Almeida trata do jeitinho brasileiro e coloca a expressão “‘Você sabe com quem está falando?’ como o símbolo maior do caráter hierárquico de nossa sociedade. Alguns brasileiros – em situações nas quais o tratamento igualitário se torna intolerável – fazem e respondem essa pergunta. Torna possível estacionar em local proibido, furar a fila em repartições públicas, receber algum tipo de benefício da lei ou ser exceção de uma regra. Muitas vezes isso ocorre de maneira sutil, sem a frase, mas com o conceito ela se expressa.”

Nossa fila do RU é um exemplo claro!

Meu maior espanto é perceber que somos universitários, as supostas pessoas que devem mudar esse país. Como esperar algo se na mínima chance de tirar vantagem de nossas influências ou amizades já nos colocamos acima de conceitos básicos de educação e respeito, quiçá da lei.

Por que não entrar na fila normalmente e encarar mais esse problema de nossa nação como os brasileiros comuns que não se prevalecem de benefícios. A fila está lá para todos e, conforme Roberto DaMatta (Carnavais, malandros e heróis), “afinal, quem você acha que é? Ninguém é mais especial do que ninguém e, por isso a lei é geral e impessoal, aplica-se igualmente a todos.”

Será que nós, estudantes do ensino “superior”, somos “mais especiais”? Não deveríamos ser os primeiros a dar exemplos de cidadania? Não seria furar a fila também uma forma de desrespeito, uma sementinha do comportamento corrupto enraizado em nosso povo? Que tal quebrar essa corrente dentro de nossa própria casa?

Bom, esse assunto com certeza nos traz muito o que refletir e argumentar...

Então te convido: vamos para o fim da fila e lá teremos bastante tempo para discussões!!

6 comentários:

  1. Olá Leandro

    Estou muito feliz por perceber que existe mais gente que pensa como eu (portanto há uma chance menor de eu ser um louco). Também gostaria de parabenizá-lo pela iniciativa e manifestar meu interesse por contribuir para a divulgação dessa ideia que, acredito eu, não é nem uma questão de educação: é apenas um dever moral.

    Felipe - Eng. Sanitária e Ambiental

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  2. Com o texto e tua atitude você está ajudando a perceber as consequências do nosso comportamento. Olhar para o que fazemos é realmente muito difícil. A auto-avaliação é algo a ser feito constantemente e você contribuiu de modo contundente pra isso. Parabéns, me fez pensar.
    Mas você foi contraditório em algumas partes. Você diz "... não vamos diminuir importância e a força de nossas ações políticas...", mas depois diz "É claro que é mais fácil e divertido brigar com a reitoria, crucificar nossos políticos e antepassados...".
    Primeiramente quero dizer que todas as ações são políticas, você fez um ato político inaugurando este Blog.
    Segundo. Sim, é muito fácil colocar a culpa no outro (reitoria e etc), mas organizar e fazer alguma coisa é MUITO difícil. O ato que você presenciou foi resultado de um longo trabalho de organização debates e pesquisa das ações administrativas da Universidade. Ainda mais difícil é fazer com que as pessoas percebam a real consequência da passividade diante da conjuntura, do porquê das filas estarem ENORMES.
    Sua argumentação é um ótimo ponto de partida pensarmos nosso lugar na sociedade, mas é insuficiente para entender a real conjuntura em que estamos implicados.
    Parabéns e vamos além.

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  3. Conversando com o Léo hoje e discutindo sobre este assunto, concordei com a idéia de que é bem mais difícil perceber a nossa pŕópria hipocrisia do que perceber a do próximo. Apontamos erros politicos, discutimos ideologias e, no final das contas, cortamos a fila do R.U.
    Mas para cortar tem que ter uma desculpa, algo para te confortar: - estou atrasado, minha mãe está me esperando, sai mais tade da aula, etc. Mas todos temos compromissos, por menores que sejam.

    Acho estranho a fila do R.U andar no sentido contrario e ninguém discutir sobre isso. Todos aceitam e todos cortam. Incrível !

    Ricardo Prado - Psicologia

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  4. Leonardo,

    parabéns pela iniciativa e pelo texto muito bem redigido. Uma discussão recente ocorreu entre os alunos de pós-graduação de eng. elétrica, automação e controle sobre a cultura de furar a fila do RU.

    O que mais me incomodou durante a discussão é que algumas pessoas não percebem que esse ato de corrupção não é distante dos favorecimentos pessoais obtidos pelos políticos mediante a utilização do poder. Quando se sugere tal comparação, todos gritam que é uma comparação desproporcional. Alguns utilizam como subterfúgio a culturalidade do almoço entre amigos, o que ao meu ver, nada mais é do que o favorecimento próprio em detrimento do direito alheio.

    Parabéns pelo iniciativa do blog!!

    Um abraço,
    André Tahim - Pós-Graduação Eng. Elétrica

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  5. Realmente é uma ótima iniciativa, parabéns Leonardo e parabéns a todos os outros membros.
    Poderiamos deixar nosso MSN e quem sabe um dia marcamos um almoço, sendo que entrariamos na fila juntos e não nos encontrariamos na entrada. Que acham da ideia? MSN abaixo
    cassia.santin@hotmail.com

    Abraço pessoal!

    Cassia Santin ADM.

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  6. Sempre comentei com meus amigos sobre o ato de furar fila e me sinto mal mesmo quando alguém vem me "usar" como atalho para um fila menor ("eaeee mano blz?" *ja ficando no lugar*) ... não sei dizer qual eh o caminho para resolver essa situação mas acredito que o seu blog foi um ótimo começo =]

    abraço

    Diogo Sinesio - Eng. Química

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